Todos
os dias, com profundidade ou superficialmente refletimos sobre a
situação política de nosso município. Quando reclamamos, da fila no
banco, quando reclamamos da precariedade do atendimento à saúde, da
ineficiência da educação disponibilizada, quando falamos da já
naturalizada e tão familiar corrupção... Sempre estamos refletindo sobre
o modo com que a política atinge nossa vida prática.
Não
é preciso ser grande conhecedor dos modos com que opera a política e os
políticos, para se colocar a dar a sua opinião, a posicionar sobre isso
ou aquilo. A explicação para isso o filósofo já nos oferecia há alguns
séculos antes de Cristo, dizendo que o homem é (um ser cívico,
naturalmente dado á política). Somos assim, políticos, por aptidão
natural, a política se inscreve em tudo que fazemos, inclusive quando
tentamos nos afastar das querelas político-partidárias e assim, tão
altivos batemos no peito e dizemos: “Não sou político, graças a Deus! Eu
detesto política!”.
Ora, não há como negar, Aristóteles tinha alguma razão! “O
homem é, por natureza, “um animal social e político” (zoon politikon).
“Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a
ficar com eles, ou é um deus, ou é um bruto (selvagem)”. (Cremonese. 2008.p 130-131)”.
O
homem tem a política inscrita em si e ela se traduz em suas ações,
norteia e orienta seus anseio, sonhos, e desejos, de modo organizado, em
partido, em religião, em artes, etc. em tudo administramos o mundo para
dar conta de responder as questões que a vida nos oferece. Desde a
questão simples de como colocar pão à mesa? Como arranjar um emprego,
qual é a melhor opção para isso ou aquilo? Até questões mais complexas
como, quem é o melhor candidato? Como solucionar o problema da educação?
Como melhorar a saúde? Etc. Quando se vive em sociedade é ainda mais
patente essa força do viés político na vida da pessoa. Assim é muito
difícil ao individuo escapar a essa dimensão de sua vida.
Este
ano, mais especificamente nestes dois meses (agosto e setembro) as
pessoas ver-se-ão enredadas em querelas políticas, seja por vontade
própria ou pela imposição dos aparatos eleitorais sempre a veicular suas
mensagens, no afã de persuadir de algum modo o eleitor. Desde um som
renitente, a uma visita inusitada em horários inoportunos, até programas
midiáticos de alta técnica em horários específicos nos meios de
comunicação. Por todos os lados e de todos os modos a política no seu
sentido partidário, estará imperante a tocar o cidadão oportuna e
importunamente. Trata se de ano Eleitoral e a Eleição é mais uma
dimensão do universo político.

No
período eleitoral, ou seja, nos trimestre que compreende o tempo da
eleição, tempo de registrar candidaturas, preparar materiais e propostas
e veicula-las para o público, a política se efetiva como prática, com
ação comum, visível e irrefutavelmente contagiante. Contagia-nos
positivamente e negativamente, dependendo de cada caso e contexto. Mas
onde e como anda a nossa consciência politica? Como ser politico e
eleitor?
No
Brasil nossa dimensão política é negligenciada, preferimos o epiteto de
que “política e religião não se discute!” ao trabalho do
desenvolvimento intelectual, que permite-nos desenvolver capacidade para
analisar e compreender os meandros políticos e partidários que
constituem o labor eleitoral.
Estamos
em pleno processo eleitoral, e como temos participado desse momento? No
sistema de governos que temos em nosso país, que se pretende
democrático e de fato temos a melhor democracia que o capital nos
permite. O voto é obrigatório, ou seja, o individuo é eleitor por
imposição sistêmica. Mas como encaramos isso e como vivenciamos essa
realidade?
Votamos,
justificamos, participamos... Direta ou indiretamente nossa ação ou
inação incide sobre os resultados do processo eleitoral. Mas o
comprometimento com que cada um abraça ou refuta sua condição política e
eleitoral é o responsável por nossas questões cotidianas e também pelas
possibilidades que temos de conseguir responder ou não, as questão
básicas da sobrevivência, da vida como um todo.
Hoje
em cada município brasileiro, grupos de políticos se apresentam sobre a
bandeira partidária, das mais variadas, com propostas e soluções para
problemas que não raras vezes são crônicos, perduram desde os dias mais
recuados da vida dos municípios. Problemas, como, a falta
de emprego, o pouco desenvolvimento municipal, a incapacidade do
município de solucionar problemas que agridem e dificulta a vida, como
seca, fome, moradia, saúde, educação, segurança, violência etc. Por
outro lado está o público, a massa de eleitores, que se posiciona no afã
de decidir qual das vozes lhe fala com mais agradabilidade, qual das
vozes lhe oferece a melhor proposta e a melhor oportunidade.
Nesse
cenário, é complexa a rede de relações que se estabelece. De partido a
partido, de liderança a liderança, de bairro a bairro, de liderança a
indivíduo, de grupo a grupo. Em cada um desses espaços as relações
acontecem de um modo peculiar. Mas todos estão enredados pelo momento
eleitoral e muitas vezes perde-se de vista a dimensão política,
reduzindo o momento a barganhas e negociatas, que mui pobremente
consegue responder a questões momentâneas. Deixando lesões profundas na
vida das sociedades, aumentando as diferenças, ressaltando injustiças e
promovendo a manutenção de um sistema pernicioso, que só pode ser
superado, quando o eleitor for norteado pelo seu ser político. Mas para
isso cada eleitor precisaria assumir como sua a tarefa de desenvolver-se
como ser político, alimentar a sua dimensão política, nutrindo seu ser
político e permitindo que ele aflore e se mostre, pois assim
independente do grau de envolvimento partidário cada individuo estaria
capaz de dar eficiência ao seu ser eleitor, por que sua condição básica o
ser político, não seria um faminto desfigurado, analfabeto e desnudo,
mas sim um bem nutrido ser capaz de ajudar o ser eleitor a cumprir do
melhor modo sua função eleitoral.
Como
transformar o momento eleitoral num momento de edificação da sociedade
em busca de liberdade e bem estar de seus membros e superar essa
condição deplorável de feira de interesses particulares e escusos onde a
igualdade de cidadania, não existe e se a política é praticada por
iguais, é sem dúvida por uma igualdade que faz os agentes políticos
aparecerem a todos como algozes da sociedade e não como líderes
legítimos que representam e norteiam a sociedade para um caminho de
superação, garantindo a cada passo bem estar aos seus membros em toda a
sua diversidade.
A
teoria do Estado em Hobbes é a seguinte: quando os homens primitivos
vivem no estado natural, como animais, eles se jogam uns contra os
outros pelo desejo de poder, de riquezas, de propriedades. No estado de
natureza existe insegurança; não há lei ou norma, cada um faz o que bem
entende. No estado natural o homem goza de liberdade total, tendo todos
os direitos e nenhum dever. Sendo, porém, sua natureza egoísta, cada um
busca satisfazer os seus próprios instintos, sem nenhuma consideração
pelos outros. Segue-se uma luta de uns contra outros, na qual o homem se
porta em relação ao outro como um lobo. (Cremonese. 2008. p.130-131).
Ora,
o que se vê no ambiente político nacional é um regresso ao estado
natural, haja vista que a legislação é ineficiente para conter a fúria
dos agentes políticos que as atropelam e burlam, de modo cada dia, mais
grotescos e desavergonhados. Sem moralismos ou ressentimentos, mas se há
razão no que Dijalma Cremonese argumenta, fica evidente que caminhamos
para um estado primitivo onde o homem é o lobo de si mesmo. E esse
primitivismo de estado engendra em si o agente politico e o eleitor,
pois ambos se posicionam como corruptos e corruptores, corrompem o
projeto de uma sociedade livre e democrática, onde cada indivíduo exerce
suas faculdades em prol do coletivo, compreendendo sua dimensão
individual como parte do coletivo, não em detrimento deste.
Joaquim Teles - Kiko di Faria
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